Segundo a Ferrero, grupo italiano por trás da marca, os chocolates comercializados no país são produzidos na América do Sul
O lote de chocolates Kinder que pode estar por trás das dezenas de casos de salmonela registrados na Europa não é vendido no Brasil.
Segundo a Ferrero, grupo italiano por trás da marca, os chocolates comercializados no país são produzidos na América do Sul, enquanto a remessa com suspeita de contaminação foi originada na Bélgica.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou não ter recebido nenhuma notificação relacionada a ovos de chocolate. Em nota enviada à reportagem, a autarquia disse fazer parte de redes internacionais de alerta, mas que, até o momento, não foi informada sobre exportação de lote contaminado para o Brasil.
"A Anvisa acompanha o caso atentamente e, caso necessário, tomará providências", afirmou.
O episódio começou na segunda-feira (4), quando a Ferrero recolheu voluntariamente produtos Kinder Ovo Surpresa no Reino Unido após ser informada de uma possível conexão entre o chocolate e 63 casos reportados de salmonela -incluindo em diversas crianças.
No dia seguinte, a companhia solicitou a devolução em outros cinco países da Europa que também recebem lotes da fábrica belga: Alemanha, Bélgica, França, Irlanda do Norte e Suécia.
Na França, 21 pacientes foram notificados pelo Centro Nacional de Referência de Salmonela e, desses, 15 relataram ter consumido os produtos Kinder. A idade média dos afetados é de quatro anos de idade.
"A Ferrero está cooperando com as autoridades de alimentos sobre uma possível ligação com casos relacionados à salmonela. Embora nenhum de nossos produtos Kinder lançados no mercado tenha testado positivo para salmonela e não tenhamos recebido reclamações de consumidores, estamos levando o caso extremamente a sério", disse a Ferrero em nota.
CHOCOLATE PODE TER SALMONELA?
A onda de casos na Europa mostrou que o ovo de galinha não é o único que pode ter salmonela. Ovos de chocolate também podem carregar a bactéria, que é uma das principais responsáveis por quadros de intoxicação alimentar.
Segundo Mariza Landgraf, pesquisadora do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC - Food Reseach Center) da USP, a principal fonte de contaminação são os alimentos crus, como carne de frango mal cozida, ovos, além de frutas, leite não pasteurizado e frutos do mar -dependendo de onde foram capturados.
No caso do chocolate, a bactéria pode contaminar o grão de cacau e permanecer nas etapas subsequentes do processamento até a obtenção do doce.
"A salmonela não se multiplica no chocolate porque não tem água disponível suficiente para que ela o faça. No entanto, ela permanece viva e, mesmo em número pequeno, pode causar doença", explica.
Nesses casos, a cocção pode não ser suficiente para eliminar a bactéria, visto que é um alimento com alto teor de gordura.
"A gordura protege os microorganismos quando o alimento é submetido ao aquecimento. O que pode ter acontecido [no caso do Kinder] é que, mesmo estando presente no cacau, a própria gordura protegeu a salmonela", diz a pesquisadora.
SALMONELA NO CHOCOLATE É RARO NO BRASIL
De acordo com a Anvisa, nos últimos anos, não houve casos de contaminação em chocolates no Brasil que levassem à necessidade de medidas preventivas pela agência.
Na visão de Landgraf, episódios de salmonela no produto podem ser considerados raros -o que é uma boa notícia, já que evitar o risco é mais complicado.
"Infelizmente, nesse caso, é drástico: evitando ingestão de chocolates. Mas até o momento, não temos notícias do problema no Brasil e esperamos que continue assim", diz.
SEM SALMONELA, COM INFLAÇÃO
Enquanto na Europa a salmonela afasta o consumidor do chocolate em plena Páscoa, no Brasil o inimigo é a inflação.
Segundo levantamento da Apas (Associação Paulista de Supermercados), brasileiros devem encontrar ovos de chocolate até 40% mais caros nas prateleiras dos supermercados em relação ao ano passado.
A Páscoa é a terceira data mais importante para o varejo de alimentos, atrás apenas do Natal e da Black Friday. Contudo, em 2022, a inflação e o poder de consumo enfraquecido devem fazer uma Páscoa de lembrancinha, com ovos menores e uma substituição do produto por bombons e barras de chocolate.
O cenário econômico afugentou até as marcas. Em março, o jornal Folha de S.Paulo apurou que a tradicional marca Village, que desde 2000 fornecia ovos de Páscoa a preços mais competitivos que os das líderes, deixaria de oferecer o produto este ano. O aumento do preço dos insumos, especialmente de embalagens, tornou a operação inviável.