A prevalência entre as mulheres supera a registrada entre os homens, com 26,45% e 21,06%, respectivamente
A hipertensão- ou pressão alta – é uma doença crônica caracterizada pelos altos níveis da pressão sanguínea na artéria. Silenciosa, essa elevação provoca sobrecarga no coração, que consequentemente tem que trabalhar com mais força, provocando alterações nos vasos sanguíneos e afetando, na maioria das vezes, o coração, o cérebro, os olhos e os rins.
Atualmente, 23,93% da população brasileira é hipertensa, segundo o relatório ‘Estatística Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 2023'. A prevalência entre as mulheres supera a registrada entre os homens, com 26,45% e 21,06%, respectivamente.
Em Mato Grosso do Sul, segundo os últimos dados divulgados no Sistema de Informação e Gestão da Atenção Básica – e-Gestor –, entre os meses de setembro e dezembro de 2022, cerca de 25% da população de Mato Grosso do Sul tiveram o diagnóstico de hipertensão registrados.
Já na Capital, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informa que, segundo dados do SISAB (Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica), até dezembro de 2023 haviam 145.941 pessoas cadastradas com a Hipertensão Arterial.
O cardiologista e vice-presidente da SBC MS (Sociedade Brasileira de Cardiologia de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bertão, explica que é normal que as pessoas pesquisem sobre os sintomas, na tentativa de identificar e pressupor que talvez estejam com hipertensão. No entanto, os casos de pacientes sintomáticos são raros. A pressão alta é uma doença silenciosa.
“Muitas pessoas são hipertensas e não sabem, justamente porque a doença é uma inimiga silenciosa. Isso faz com que tenhamos altos números de pacientes que não sabem que têm a doença e que não se tratam adequadamente por não se sentirem mal”, explica.
Segundo o especialista, quando o paciente apresenta sintomas, na maioria das vezes já é a manifestação de alguma condição mais grave atrelada a hipertensão. “Às vezes as pessoas estão com sintomas, mas aquilo já é a manifestação de algo mais grave, como infarto, AVC, alterações renais, visuais… Por isso o diagnóstico precoce é tão importante”, ressalta.
Se a pessoa sente dores no peito, tontura, sangramento nasal, falta de ar, dores de cabeça e zumbido no ouvido, é fundamental buscar um cardiologista.
Fatores genéticos, ambientais e comportamentais estão diretamente ligados aos casos de hipertensão, porém, Bertão ressalta que a doença acomete principalmente pessoas a partir dos 35 anos, que levam um estilo de vida sedentário e de má alimentação.
“Claro, existem aquelas pessoas que têm pré-disposição genética e acaba tendo hipertensão precoce. A gente conversa com o paciente e ele relata diversos casos na família. Mas a hipertensão é muito mais comum em indivíduos sedentários, obesos, que consomem alimentos em níveis elevados de sódio, como enlatados, embutidos… Pessoas que fumam e bebem bebidas alcoólicas também tem maior pré-disposição”, explica.
Por isso, para tratar e combater a hipertensão, a primeira linha de tratamento é a mudança de estilo de vida. Ao receber o diagnóstico, é importante que o paciente elimine os hábitos correlacionados à doença.
“Para quem é considerado de baixo risco, o tratamento inicial será eliminar os fatores que os fizeram ser hipertenso. Ou seja, se a pessoa é sedentária, ela terá que praticar atividades físicas, se é alimentação, terá que fazer escolhas mais saudáveis na refeição, e assim por diante”, pontua o especialista.
Já nos casos em que apenas as mudanças de hábitos não resultam em uma pressão arterial controlada ou tem outros fatores de risco atrelados a hipertensão, o próximo passo é iniciar a medicação. O especialista explica que não existe uma regra, mas no geral, após o diagnóstico que aponta a necessidade de medicamentos, eles serão utilizados continuamente, fazendo alguns ajustes ao longo do tratamento.
“Tem casos excepcionais. Em situações em que o paciente tem hipertensão relacionada a outras condições, pode ser que futuramente ele possa dispensar o uso de medicamentos. Por exemplo, se a pessoa tem hipertensão relacionada a obesidade, pode acontecer dela, após a normalização do peso, ter a pressão controlada novamente e não precisar mais dos remédios”.
No entanto, enquanto recomendada, a medicação deve ser contínua, respeitando as orientações do cardiologista e fazendo novas consultas anualmente ou no período determinado pelo especialista.
Na rede pública de saúde, a rede de atenção primária em saúde realiza ações corriqueiras, dentro e fora da unidade, para a prevenção e o controle da doença, com grupos operativos e ações de Hiperdias, que são focadas exclusivamente nos pacientes que possuem diagnóstico de HAS e são acompanhados pelas equipes de cada unidade.
Embora aferir a pressão frequentemente seja uma orientação, o diagnóstico da hipertensão não é tão simples. É preciso ser feito alguns exames mais específicos, como o monitoramento 24h, conferência dos níveis de pressão arterial, para assim ter a classificação correta (hipertensão primária ou secundária) para iniciação do tratamento.
Hipertensão primária – a maioria dos casos entra nesta classificação. É quando a doença é causada por fatores genéticos, má alimentação ou hábitos prejudiciais.
Hipertensão secundária – são os casos relacionados a fatores como apneia do sono, alterações hormonais e problemas renais, por exemplo. Quando essas condições são tratadas, automaticamente o quadro de hipertensão é estabilizado.
Portanto, é importante ter em mente que aferir a pressão com frequência e realizar exames anualmente é fundamental para um diagnóstico e tratamento precoce, afinal, até mesmo pessoas com hábitos saudáveis, se tiverem pré-disposição, também poderão ter diagnóstico positivo para a doença.
Para conscientizar e orientar a população sobre a doença, a Sociedade Brasileira de Cardiologia do estado realiza, neste domingo (28), uma ação aberta ao público e gratuita. A atividade acontecerá no Parque das Nações Indígenas (entrada Guató), das 8h às 12h, com testes de glicemia, colesterol, medição da pressão arterial, avaliação de risco de problemas cardíacos, aula de pilates e aula de funcional.