É o que revela levantamento elaborado pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, divulgado hoje (25).
No Brasil, 95% das mulheres têm medo de serem vítimas de estupro, crime que provoca ainda mais temor em mulheres jovens e pretas. Apesar da gravidade em torno desse tipo de violência, uma parcela significativa da população ainda deixa de classificar determinados atos como violação. É o que revela levantamento elaborado pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, divulgado hoje (25).
Um exemplo disso é que somente 62% dos entrevistados afirmam que um estupro se configura quando um homem retira o preservativo durante o sexo, sem o consentimento da mulher. Ou seja, 38% das pessoas não consideram isso estupro.
O mesmo vale para episódios em que um homem força sua companheira a ter relação sexual sem camisinha. Nesse caso, 31% das pessoas discordam que isso configure estupro. Além disso, uma relação sexual entre um homem e uma menina menor de 14 anos é considerada normal para 21% dos entrevistados, e não um crime.
Em relação às vítimas, a percepção é de que a maioria são meninas, que totalizariam 57%, de acordo com os entrevistados. Em seguida, estariam as adolescentes, com 37%, e as mulheres adultas, com 6%. Quanto ao perfil étnico-racial, os entrevistados creem que as vítimas negras estejam em maior número nas estatísticas.
A pesquisa também mostra que a noção sobre as circunstâncias em que o estupro ocorre muda, para os entrevistados, de acordo com a vítima. Quando se trata de meninas, 89% das pessoas ouvidas acham que o abuso acontece sobretudo em casa. Para 71%, o agressor é um parente ou conhecido da menina violentada.
Quando o estupro envolve mulheres adultas, somente 39% afirmam que a casa é o local em que o crime é consumado. Ao todo, 69% aponta conhecidos como autores do estupro nesses casos, e 37%, o parceiro ou um ex-parceiro da vítima.
Na avaliação da diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, a sociedade brasileira já avançou no reconhecimento do que é estupro.
“As pessoas já sabem que o perigo do estupro está menos no desconhecido, rua, e muito mais nas relações pessoais, familiares, afetivas”.
Maria chama atenção para outro aspecto central:
“Meninas aparecem mais como ‘vítimas inocentes’. Quando é com mulheres adultas, a pesquisa mostra que em alguns casos as pessoas têm dificuldade em considerar como elemento básico o que é estupro e o que não é estupro, o consentimento”.
"Tudo está nessa palavra, que é a palavra-chave, é o limite, a fronteira entre uma prática sexual saudável e um estupro: é o consentimento", pontua.
No total, 83% concorda que o estupro é sempre culpa total do estuprador, independentemente de como a mulher se veste ou se comporta.
Para o levantamento, foram coletadas as respostas de 2 mil pessoas com 16 anos ou mais, pela internet, entre 27 de janeiro e 4 de fevereiro deste ano.