Após a conversa, a FPF divulgou comunicado com uma ameaça velada em forma de promessa: a de acabar o Campeonato Paulista na data programada, em 23 de maio
Realizar partidas do Campeonato Paulista fora de São Paulo não foi um dos assuntos discutidos na reunião dos dirigentes de clube com o presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Reinaldo Carneiro Bastos, nesta quinta (11) à tarde. Mas a possibilidade de isso acontecer passou a ser usada como ferramenta de pressão contra o governador João Doria (PSDB).
Poucas horas antes do encontro virtual da cartolagem, o governo do estadual havia anunciado a paralisação de atividades esportivas em São Paulo. Essa foi uma das medidas do novo pacote de restrições no combate à pandemia da Covid-19.
Após a conversa, a FPF divulgou comunicado com uma ameaça velada em forma de promessa: a de acabar o Campeonato Paulista na data programada, em 23 de maio.
Testemunhas da reunião disseram à reportagem que jogar em outro estado é a última opção, mas que não está totalmente descartada, principalmente diante da possibilidade de a paralisação de 15 dias ser prorrogada de maneira indefinida. Para eles, o tempo de parada será maior que o anunciado pelo governo, já que os atletas precisarão de mais dez dias de treinos antes da primeira partida.
Um presidente de clube lembrou que os jogadores estão mais sujeitos a serem infectados pelo maior contato com familiares e amigos durante o período sem futebol.
Ficou acertado que Bastos vai levar o descontentamento dos clubes a Doria em nova reunião virtual, marcada para a próxima segunda-feira (15) de manhã.
O maior foco de irritação é pelo que consideram desprezo do governo estadual pelo protocolo sanitário firmado no ano passado para a volta do futebol. O documento teve a aprovação do governo do estado e foi assinado pelo Ministério Público.
A paralisação do futebol nesta semana aconteceu por solicitação do procurador Mário Sarrubbo. Em entrevista nesta quinta (11), Doria disse que atendeu ao pedido do MP.
Horas depois do anúncio, o governador em exercício do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PSC), disse que seu estado estava de "braços abertos" para receber os jogos do Paulista. Os dois são rivais políticos, e Doria criticou Castro por não ter assinado o "pacto pela vida e pela saúde", documento que tem como justificativa evitar o colapso do sistema de saúde no país.
"Se não houver compreensão e ficar mantida a restrição até 30 de março, vamos continuar o campeonato dentro ou fora do estado de São Paulo, de forma a terminá-lo em 23 de maio. Vão vir prejuízos financeiros, mas o prejuízo maior seria paralisar o campeonato", defende o presidente do Santo André, Sidney Riquetto. Para ele, o Ministério Público tem "forçado a barra" para suspender o futebol.
Mandatários de times da A1 se queixam que a paralisação do futebol se transformou em uma plataforma política para Doria, que usou como justificativa para as novas restrições a ameaça de esgotamento dos leitos de UTI.
Na última quarta-feira (10), o Brasil registrou 2.349 mortes causadas pela pandemia da Covid-19. São Paulo bateu seu recorde na terça (9): 517 óbitos em 24 horas.
Os dirigentes do futebol paulista consideram que o esporte não pode ser visto como vilão na propagação do vírus. Foi pedido a Reinaldo Carneiro Bastos que tente abrandar as medidas do governo na reunião da próxima segunda. Se preciso, usar o argumento de que as partidas podem ser realizadas em outro estado.
"O Doria sentiu a pressão, pode ver que ele não parou o futebol [imediatamente]. Manteve a rodada do final de semana e vamos ver o que vai mudar na segunda-feira. O medo dele é com os times, que estão, sim, conversando e estudando a possibilidade de ir para outro estado", diz o deputado estadual Delegado Olim (PP), presidente do TJD-SP.
Causou irritação também o fato de que o governo do estado não soube responder, a princípio, se os times poderão treinar no período. Apenas no início da noite desta quinta respondeu que também os centros de treinamento terão de ser fechados.
FolhaPress